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Showing posts from October, 2006

morte do velho

Quem disse que mendigo é gente. Tinha uma calça co vinho, com manca relativamente grande de água sanitária. E para não lhe correr entre as pernas, usava uma corda. Começou a beber em uma ponta da cidade e foi parar na outra, por sorte não foi parado por nenhum fiscal da lei; ou garis da moralidade, como queira. Andou até as pernas começarem a queimar e assim perdendo o controle sobre elas. Ia passeando por um bairro nobre, de muros altos e verdes, onde a felicidade parecia realmente reinar. A sujeira lado a lado com a afetada limpeza. Viu um sobrado amarelo e logo após a entrada da rua. Nem pensava em entrar, já ia passando para se ver longe do seu oposto. Mas ao atravessar o início da ruela, hesitou e olhou mais para o fundo. E lá, duas casa adiante da amarela um terreno baldio. Sentiu que era seu lugar. Já estava bem tarde, ou cedo; a podridão do álcool em sua mente era insustentável. Tinha que descansar. Balançou a garrafa. Havia ainda mais duas bocas cheias, com as bochechas estufa

tudo que é sólido desmancha no ar

Poema em linha torta Em Brasília eu ando, eu vou reto sem perdão O que me guia é meu coração Trasbordado de emoção Não é a boa não É a angustia que me aflige Doido, tento descobrir o segredo da Esfinge Faceira que é, ela finge Não são mais duas horas, mas quinze Agora ando torto; a linha reta não faz mais sentido Com o cigarro na mão faço um pedido De certo não será atendido No final da rua procuro alento Mas meu único amigo e vento E assim decorre o tempo.

fausto

Estava sentado no lobby de algum hotel cinco estrela em Brasília, não podia se lembrar bem desde de quando esperava ali. Tendo que ouvir o inglês mal falado dos recepcionistas. O último cigarro que tinha, fumou, lógico. Fumar igual a esperar. Odiava hotéis, principalmente, por conhecê-los tão bem; passara boa parte da vida em um. Mas não como viajante, curioso por ver o que lhe espera em cada frigobar. Foi filho de um anônimo garçom, que o levava por não ter com quem deixar o menino. “Fica comportado aí, volto com um refrigerante”. Era uma frase marcante de seu pai: Felipe Corrêa. Enquanto o via como um maioral, o chefe dos garçons – que achava sofisticado por ser “jovem” em francês – seu pai guiava os belos rapazes com seus smokings marfim, talhados de rosas, com seus bigodes de penugem a cobrir a boca. Divertia-se como se tivesse em um balé, quando os via bailar. Exigindo o mais variados pratos, de filet à parmegiana à costelas de carneiro ao molho de hortelã. De vez em quando, ele