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Showing posts from December, 2006

e vai, reto sem perdão

Os dias se passavam assim, do hotel para a escola, da escola pra casa, da casa para o hotel. Morava na 504 Sul, em cima da W3 em um conjugado de dois escritórios. O que davam dois quartos, mais um sala, cozinha e banheiro. Em seu quarto, tinham duas janelas grandes, que deixava transparecer as duas pistas, mão e contra-mão, e os carros velozes, buzinantes, com seus passageiros que mais pareciam fantasmas, à noite, por parecerem sempre imóveis e resolutos. Passava horas de lendo um dicionário francês e nomeado cada estrelinhas com o nome que achasse mais chique – claro que garcon tinha sido a primeira; uma de cada vez, de um universo que o Big Ben se dava quando apagava as luzes, eram adesivos fosforescentes. Mas o que mais gostava do seu quarto era o retrato de sua irmã. Que há anos não via, pois tinha ido para o Rio de Janeiro com sua mãe. Um retrato de sua irmã mais nova, ou melhor, um retrato dos dois. Demorou a se reconhecer; com os cabelos lambidos, e olhar puro. Lembrou de uma v

poesias loucas de antigamente (carbono dual)

"na cama eu deito mas não sinto o peito...mas veja só, por sinal, meu destino é ser dual...criando, matando...sorrrindo. bastante ao soluço humilhante...digo cá meu adeus, fique com deus...se deus não existe, não fico triste..amanhece o dia e é isso que eu queria" miguel watson RetaateR A vida passou rápido Saiu de casa à procura O dia já está de pé Balbucio palavras erradas Entornando inteiro o copoem grandes goles A inocência indo embora, morta O paraíso falso de cores A laranja estragada por dentro E a moral se foi a muito tempo Se perdeu em alguma reta oleosa Animal Diga diga, ora, diga Diga diga, ora, pois Diga diga o que sente E pense logo depois Dúvidas Pronto, agora foi O rumo a seguir reduzidos a palvaras que não são as suas Uma negativa iminente Troca de assunto Não te quero dessa forma Ninguém quer As coisas estão em ciclos Ontem... Espelho A dor cotidiana O ciclo do não As atitudes sem razã

Os olhos da clarividência

As suas mãos estavam tão brancas, suas veias pareciam estradas. Passava sua mão esquerda na colcha, que parecia estar tão limpa e branca, mas estranhava por estarem tão lisas, não sofrendo atrito algum. Tentava tocar seu corpo, mas este lhe parecia tão frágil; tinha medo, muito medo. Queria fazer um poema sobre aquele momento, o seu grande momento, deveria se fazer algo estando naquele estado. O que ele ia fazer, dar um suspiro e pronto. Não! Queria dizer as coisas mais bonitas, mais humanas. Ir contra tudo e profanar a cruz. Acendeu a vela que estava do seu lado, apagou as luzes. Nenhum padre iria velá-lo. A vela é egoísta e fraca; na verdade não ilumina o quarto, só a ela mesmo, como todo seu esplendor branco e suas consistência dúbia. Fora de seu centro não havia nada, só a penumbra. Ah! A romântica penumbra, que tanta vez ele quis, ao ficar com uma mulher, para se ver revelada a ele só ao toque, a visão era privada de tal conhecimento. Tinha medo desta penumbra, lhe ocultava mistér

quadros de areia

Havia uma camareira chamada Carmem, que possuía uma bondade infinita, mesmo com as agruras que a vida de pobre a havia submetia. Tinha um olhar condescendente; pronto para a ouvir e dar conselho cristão a todos que por acaso a procurasse. Ela tinha não mais que um metro e meio, cabelos curtos e ondulados acobreados, por alguma tinta barata. Gostava muito de Pingüim, tendo Fausto em alta conta, e o via com um filho; na verdade, via todos como filhos e só queria o bem deles. Ela fora muito bonita, em algum lugar perdido no meio da Natal. Era filha de um servente, seu Paulino, um homem severo, porém correto, que lhe deu uma perfeita educação cristã. Fez seus estudos até a 8º série e teve que parar para ajudar sua mãe na confecção de garrafinhas de areia; que ilustravam temas praianos, como canoas, com pescadores e coqueiros, bem típico nessas cidades em que o mar é o seu fascínio e fonte de renda. Quando estava na praia do Careca vendendo seus artesanatos, um homem, chamado Carlos, a ch