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Showing posts from July, 2007

sem título III

Mas? Não havia mais “mas”. Tudo acabado, assim de repente. Veio à cabeça falar “mas” mais uma vez. “Como estou nervoso e confuso”. Sentiu um frio na barriga; frio de quando uma água gelada percorre devagar a sua espinha dorsal. Uma tortura, depois sentiu tontura. Sentiu-se pequeno também, do tamanho de um botão. E depois, segue a luz branca. Zzz.

sem título II

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E por essas veias, que olhava enquanto batia em cada letra no teclado. Um “p”, depois um “e” e assim por diante. Será que algum dia aquela seqüência de barulho ia fazer algum sentido. Ele escrevia para se aliviar, pois o sangue estava fervendo lá dentro, mas depois pensava nas pessoas, se entenderiam as palavras que ele escolhera, as metáforas. No trecho que estava trabalhando circulou algumas palavras, as que não serviam; eram muitas, não exprimiam o que ele realmente gostaria de dizer, e se tivesse a preguiça de não fazer isso, como poderia se justificar perante ele mesmo. Usar palavras imprecisas. E olhava no dicionário, procurando sinônimos. Seus olhos fixos no papel, que estava mais branco que preto, e significava mais nada que alguma coisa. Não vai fazer diferença algum. E continuava a escrever. “E” depois “n”. Tlec, Tlec, espaço, vírgula e ponto e vírgula. Enquanto mamãe me botava o pijama, e penteava meus cabelos, olhava não para os meus olhos, mas para minha testa; e ela

sem título I

Acordei em uma cama que não era a minha. Meu quarto foi todo mudado; a coleção de livros em uma mão francesa à esquerda, fotografias coladas em um mural metálico - nossa lua de mel em Paris -, nada estava no lugar. Qual foi meu espanto quando ao tocar o chão, não senti o bom e velho carpete bege claro, mas um frio azulejo que devia ser azul claro. Oh não! Meus chinelos do papai, de couro e muito confortável; ele que abraça e massageia todos os meus joanetes. Não havia nenhum relógio nesse quarto, nem espelhos, nem calendários. Muito menos porta... Porta! Não têm porta? Olhou pela janela, e já em primeira analise ela se demonstrou impenetrável, resoluta. Sua paisagem era muito bonita; devia ser o começo do dia e o final da noite. A direita uma escuridão cheia de perigos e em apenas um giro de cabeça o sol iluminando os primeiros pedaços de terra. De uma forma estranha o céu muda para uma cor inusitada. Numa mistura oposta o azul do céu, vermelho do sol, branco das nuvens, milagrosamente

morte em veneza

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Desse modo pensava Aschenbach em seu êxtase, essa era a dimensão do seu sentir. E o marulho das ondas e o brilho do sol teceram a seus olhos uma imagem sedutora. Era o velho plátano próximo aos muros de Atenas - aquela sombra sagrada, perfumada pelo aroma das flores do agnocasto, adornada de estátuas e oblações em honra das ninfas e de Aquelôo. O riacho muito límpido cascateava no cascalho liso aos pés da árvore de ramos estendidos; as cigarras ciciavam. Mas na relva em suave declive, onde se podia estar deitado mantendo a cabeça mais alta, dois homens estavam estendidos, protegidos do calor do dia: um velho e um jovem; um, feio, o outro belo; a sabedoria junto à graça. E entre a amabilidade e gracejos espirituosamente sedutores, Sócrates instruía Fedro sobre o desejo e a virtude. Falava-lhe da cálida emoção que surpreende o homem sensível quando seus olhos se deparam com um símbolo da beleza eterna; falava-lhe dos desejos lúbricos do ímpio e mau que não pode conceber a beleza ao v