temperança
Tento escrever algo. A realidade nefasta parece dissolver cada palavras, rechaçar cada avanço meramente ficto. O cotidiano, desprovido de cor, segue martelando sua ditadura à 1984. É quase impossível florear algo sobre o asfalto quente, o calor assola as idéias, retirando a tentativa de sair do meramente descritivo. Há pressa para tudo, mas, no fim do dia, sinto que não fiz o mais importante: viver. As pessoas não existem, são vultos anônimos, que passam por mim com o mesmo descaso que passo por elas, numa reação automática. As relações se baseiam no imprescindível, bom dia, boa tarde, boa noite. A ampulheta escoa a areia e gostaria de escrever algumas linhas sobre ela, das histórias do fundo do mar, dos pés, dos ouriços. Mas há uma sensação de hiperealidade, sinto que olho o mundo numa lupa, tirando todo seu segredo. É ,em um minuto, às 21:03, em que, de novo, me sinto obrigado a reagir, lutar contra a vontade inexorável desse algo que deseja me levar para longe de mim, me tornar má