caminho do parque (ao contrário)

Eram seis da tarde, o clima era agradável – um pouco úmido -, por onde andava havia uma vasta vegetação costeira, dando ao ar um frescor ainda maior. Usava um boné, de um posto de gasolina se me lembro bem, com as bochechas coradas, de um vermelho já vivo, de doença mesmo. O cabelo era curto, respeitável, mas na verdade era para esconder os cabelos brancos que já eram muitos; demais para sua vaidade deixar. Seus olhos escondiam uma alegria, mas mal podia se ver; estava tão lá no fundo, Lembrou de seu marido, já falecido, lembrou da agonia do homem que um dia foi seu macho, o que lhe deu as crias – dois meninos. Quando se viu no espelho, nua, como havia envelhecido. O sexo já era nojento, já não havia mais graça; dois corpos desengonçados tentando tirar o prazer de um poço já seco. Afinal, vendo o corpo no caixão, sabia que não teria que fazer aquilo de novo. As saídas, encontros sociais, eram raras. Depois de três ou quatro ficou enjoada, ao ver que era a coitadinha – projeto social da classe média católica. Ficava em casa, presa, lentamente perdendo a sanidade mental. Cruelmente lerda, começam por voz, lá no fundinho; depois, visões. Acordou com a realidade gritando em sua ociosa inteligência. O quê? Meu filho!? É, seu filhinho, Marcos, havia batido em sua namorada. Que absurdo. Fiz eu algo de errado?, se perguntou. Então resolveu tomar um ar, dar um volta. E foi quando a vi, seca, morta, indo lá longe do meu retrovisor; cada vez mais apagada. Não havia mais volta para ela. E se foi, anda a passos calmos, com shortinho, regatas de marinheiro, e boné; sempre passando protetor solar.

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