carta de suicídio nº5



Com sol e chuva, eu chorava. Via-me estranhamente delineado no espelho do banheiro baforento. Cheio de vapor. Meus olhos eram apenas framboesas vermelhinhas, de resto era uma olheira vergonhosa. Pior do que de bêbado. Pior que de puta. Os meus cabelos estavam úmidos, e eu, e eu compulsivamente passávamos a mão neles. Em entre risos e risadas e imensas sessões de choro convulsivo. Cantando Clube da Esquina. Cheirar teus cabelos cacheados, como os meus. De me questionar da forma abrupta que seria. Mas eu dedicadamente queria ser um predestinado a viver pouco. Ousei dar uma risada mórbida com Álvares de Azevedo, o mestre dos cães.

Tomei os comprimidos bem devagar, meticulosos, um, dois, três, quatro, um pó, acompanhado de goles de vinho barato. Era a hora do homem ir se encontrar com sua negritude mais impenetrável. Os olhos não se acostumam jamais. Tateei. Meus pés, eles pisam cuidadosos, nunca andaram naquele terreno.Solito, com as mãos tapeadoras, tapeadoras, até encontrar um chão onde possa me repousar, dar uns estalos.

Não sei como consegui me carregar para o banheiro e dar-me ou tomar um banho. Gelado como a morte. Beijo frio da morte. Arregacei minha bocarra para beijá-la; mas de súbito fiquei com medo, fiquei de pijama cor de todinho, todo mijado. Naquele dia havia um outro alguém, com mão macias e delicadas. Salvou-me entoando rezas arábicas, uma viagem de coisas, de humildade, de satisfação, predileção. De coisas múltiplas, inexatas.

E daí começou. Vento Solar e estrelas do mar. Você ainda quer morar comigo. Eu só preciso ter você por mais um dia. Bom dia! Como vai você? Um girassol da cor de seus cabelos. Lindas madeixas.

O sol pega o trem azul. O sol nas cabeças, Enquanto eu imagino o poema que eu vou escrever para você, de como você era minha pessoa predileta:

Vou-me, como a poeira assobrada por cima do móvel

Da Vitrola que ainda está atrasado

Tem que ter medo de entrar e não sair mais

Te amo, assim como o vento.

Em meu peito és latifundiária.

Ditadora! Desgraçada!

À revolução!

Como eu gostava de te beijar, ou só triscar. Você pega o trem azul. O sol na cabeça.

Acordei seis horas depois, coberto de vô....

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