ab-ortus


Abraxás
Nunca nem olhou no dicionário para saber se o que Sinclair falava era verdade, aquilo apenas fazia sentido; aliás, todo. O Deus Abraxás. Era tão fácil percebê-lo. Quando se olha para um gramado verdes, com flores de aromas mais diversos. Tudo ao se olhar parece sereno e perfeitamente postado ali para desenvolver aquela determinada missão. As árvores balançavam e suas copas se deixam jogar no sopro do vento. Os passarinhos em trio fazendo acrobacias e cantando: "Piuu -u – oooo- piuuu". E um palpitar no coração dispara um raio que vai para o pé e chutado de volta para os lábios. E lentamente um sorriso vai se abrindo.E canta, acompanhado a melodia dos pássaros "Sem ar, sem peso para carregar!" - sentiu uma vontade de sentar de pernas cruzadas como já não fazia em duas décadas. Isso é o ditoso, o bom. Mas e quando o dedo do assassino escorrega para o gatilho, lento, para tirar o máximo proveito. Fausto o faz pelo prazer; cerra um pouco os dentes e senti sempre gotículas na parte superior da boca, que irrita e coça, e ele rapidamente as tira com a mão inteira. Caim estava na sua fronte. Naquele gramada, enquanto se olha para o céu lilás, o passarinho rasga com seu bico afiadíssimo a barriga da lagarta. E que pena! Seria uma borboleta linda. Mas não quis sair do casulo, não quis chegar a si mesmo. Arregalando os olhos pensou: "Vamos, vamos que para trás não há nada; E os vestígios? Droga, minhas mãos. Soca a cara dele mais algumas vezes e pisa também! Caim forte em minha testa! Caim forte em mim, dentro de mim, em todo lugar de mim. Que a bênção venha para mim, Abraxás!” ·Desejava Fausto se encontrar em si mesmo, em sua solidão e se alimentar só dos sonhos que tinha. Incríveis chacinas, com um banho de sangue. Vivia sempre vivendo por isso; na rua só o que podia ver era cabeça degolada, osso saindo pra fora do corpo. Às vezes por capricho, e com seu sarcasmo imundo, em conversas corriqueiras dizia barbarias, atrocidades.
- Bom dia senhor, aqui seu troco - diz a atendente da loja de conveniência, sempre tão solicita. Quando se virou, fingindo ter esquecido de fazer o pedido de outra mercadoria disse: - Sim, sua prostituta suja. Vou te rasgar e jogar você numa banheira de água sanitária - com a maior naturalidade e ainda com o sorriso. Era um jogo arriscado que só acabava quando ela dizia:
-O quê senhor? - e Fausto saía contente, de papo pro ar, como uma criança com o pirulito. E pensava no gramado onde fez pela primeira vez.

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