Vaporetto
Meu coração nunca foi de ninguém. Vivi uma boa vida, disso eu me consolo. Mas passei incólume pelo amor. Me esgueirava por entre as ladys até com certa desenvoltura; posso até dizer que um dia já fui bom. Bom não, confiante, alma aventureira, moreno do sol. Mas, de certa forma, sempre houve momentos de cinismo puro. O abrir os olhos ao beijar; olhar no espelho enquanto copula. Coisas estranhas que acontecem entre quatro paredes. Já andei em motéis, carros, ruelas, chão, elevador. Realizando algumas fantasias que me foram incutidas na primeira puberdade. Rastejei na noite, fiz caridade, fui sujeito de beneficência. Vomitei e beijei, masquei chiclete, kit beijo. Catuaba até ficar roxo. E chorei só voltando para casa e quis bater no poste. Detive-me algum tempo com algumas moças, a maioria gringas. Havia algo de bom saber que elas não conseguiriam ver dentro e profundo na alma brasileira. E saber o que é saudade. E por não saberem, acho que não lembram mais tanto...