Vaporetto

Meu coração nunca foi de ninguém. Vivi uma boa vida, disso eu me consolo. Mas passei incólume pelo amor. Me esgueirava por entre as ladys até com certa desenvoltura; posso até dizer que um dia já fui bom. Bom não, confiante, alma aventureira, moreno do sol.  Mas, de certa forma, sempre houve momentos de cinismo puro. O abrir os olhos ao beijar; olhar no espelho enquanto copula. Coisas estranhas que acontecem entre quatro paredes.
Já andei em motéis, carros, ruelas, chão, elevador. Realizando algumas fantasias que me foram incutidas na primeira puberdade.  Rastejei na noite, fiz caridade, fui sujeito de beneficência. Vomitei e beijei, masquei chiclete, kit beijo. Catuaba até ficar roxo. E chorei só voltando para casa e quis bater no poste.
Detive-me algum tempo  com algumas moças, a maioria gringas. Havia algo de bom saber que elas não conseguiriam ver dentro e profundo na alma brasileira. E saber o que é saudade. E por não saberem, acho que não lembram mais tanto de mim. Fui uma aventura saliente num cálida apres midi na Riviera. Que canastrão.
Dos meus velhos escritos, agora já espacialmente distantes, reconheço apenas a dor constante de um jovem que luta contra o seu lobo, sua solidão.
Um dia, hei de me acostumar. Aconselhar outros sobre suas vidas amorosas , ser tio, pagar pelos meu pecados. Ver, relação após relação,  minhas, de próximos, dos meus pais, avós, amigos e aliens, perecerem sobre o tempo. Ampulheta  de areis cruel, abrasiva, corrosiva.  Hoje quem sofre sou eu, amanhã você. Recolhido em sua coberta esperando o sono vir.  Hoje brindo a vida e ao norte que sigo. Ela está longe. Irretocável memória, dos fios da franja sendo lufadas pelo vento frio de Monmartre, foi ali que senti meu coração acalentar, quando após um cigarro, beijei-a com força. Sabendo de antemão que seria o primeiro e último beijo fiel. Que canalha. Em um soirée  disse as palavras mágicas: I love you!
“No you don’t!” replicou ela quase que de imediato. Estávamos ambos os dois tão bêbados (sic)! Havia ela derramado inúmeras cervejas, e antes da festa terminar, já estava angelical, dormindo no meu colo. Eu acariciava aquele lindo ser, desprotegida sobre as minhas mão que dedilhavam seu velos dourados. Sublime! Magnânimo! O amor por entre as cobertas, o descobrimento de peles nunca antes vistas; beijar para obter o tão certo arrepio. O desabafar de prazer de bien être. Sussurrar en française, avec la liberté de dire des choses impubliables. Rêve d’un jour, touche les anges à côté de toi, Toujours, j’espère avoir ton regarde et sympathie. Je voudrais te toucher pour te faire plaisir, pout te faire, simplement, rire. Je t’aime; et si tu me donne la bonne chance, je te couvrira de bonheur. E sentir o peito encher de alegria, o palpitar do coração acendendo a chama do amor eterno!

O carrossel iluminava naquele começo de noite. Café ela, eu cappuccino. Alguma coisa esta errada. Você nunca poderia ser minha. O Destino não deixaria a vida cotidiana estragar a imagem que estava defronte. La beauté. Pois a beleza apenas é;  única forma ideal que percebemos por meio dos sentidos e que nossos sentidos podem suportar. O espírito se inclina vassalo diante da beleza. 

FF



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