sonhei com você

Felipe, mas conhecido como Pingüim. Era tranqüilo, olhar sereno e complacente. Sempre foi muito humilde. Seu lance era o saxofone, e aquele que fala alto, em mi bemol, que faz loucuras. Na verdade ele era da praia, bahiano, de Salvador. Carlos Augusto, nome de seu velho pai, feio como um cão rabugento, mestre de obra; era forte por causa disso. Não entendia essa tal de música e aquelas figurinhas que o filho tanto lia. Achava que o som parecia o choro do filho, e que ele não gostava de ver filho nenhum dele sofrer. Talentoso que era, logo ele procurou uma banda. Tocavam nos bailes, mas sempre uma coisa meio brega, aonde seu sax ia rasgando. Queria uma coisa mais cool. Quem havia lhe dado o instrumento foi o vó João, que gostava de música, pediu pro neto escolher o mais bonito e brilhante. Ele escolheu o saxofone, ele era todo de ouro.

Morando em uma Salvador agitada, ia todos os dias para os hotéis mais fino, vestindo um terno da Vila César, comprado a sei lá quantas prestações, fingindo ter cara de rico. Ia pro bar com o dinheiro contado para uma cerveja, só para não ser expulso do bar. Aquele ambiente esfumaçado, logo o atraiu, os rostos distorcidos pelo tragar dos cigarros, o ouro nos copos, ou um chique dry Martin. E ouvia o Jazz, falava Jaazzzz mesmo, alongando o “z” dando a palavra o ritmo ao tom do seu significando. Alguns otários falavam Jaz, e pronto, para ser abrasileirado. E a morte da palavra. Jaz aqui um estilo musical; e um epitáfio: “Pa pa pa ta pa ta”. Ouvia a banda em seu caminhar louco para a unidade, sempre atrás do tempo prefeito. Batucava enquanto podia e imagina seus dedos nas mais loucas combinações. Ao final de cada show, esperava os músicos no balcão para conversar e absorver o máximo. Era um apaixonado.

-Prazer, Veloso, gosto e muito dessa música que você faz aí.

- Má rapá, muito obrigado, somos poucos. Ela vem lá de dentro, do pulsar do meu peito, que vai tum e tum, de depois vai pra onde? Correndo para longe de um fogo carnal – e riu o mulato Veloso, dando dois toques na madeira e pedindo para descendo um duplo.

- Tu me disse que tocava o que mesmo? – cheirando e se benzendo com o ouro.

- Sax; queria ver onde vocês fazem as jam sessions.

Comments

Bassáltamo said…
e você?
Anonymous said…
faz tempo.
Bassáltamo said…
o tempo é o senhor de todas as coisas.
tá difícil aqui, mas ele vai passar na minha porta qualquer dia desses.

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