partiu mesmo

A manhã estava terrivelmente seca, sentia as melecas moles se transformarem em concreto, mas ele gostava. Era um de seus hobbies: tirar meleca do nariz. Apesar de todas as advertências que se pai já lhe dera sobre o quão feio era aquilo. Mas o prazer era tão bom, e melhor ainda era olhar os formatos loucos que elas saiam. Umas eram dura e douradas, outras mais viçosas. Tinha uma técnica que ele achava infalível; primeiro, ele fingia que estava coçando o nariz, e dava uma pequena futucada só para saber a localização exata e depois com um golpe ágil e certeiro a pegava com a ponta do dedo indicador. Algumas vezes elas não saiam completamente, exigindo uma nova investida; mas isso não era comum. Quando estava sozinho, fazia uma bela limpeza no salão, vasculhado minuciosamente, enfiando o dedo, até chegar perto do buraco que há no fundo do nariz, o que causava uma irritação detestável e uma vontade incontrolável de espirrar.
Ele rumava a escola, vendo o céu limpo, sem nenhuma nuvem, apenas o uma imensidão azul clara, e o sol castigando a todos. Quando chegou à escola, sua garganta estava seca, e foi beber um pouco de água no bebedouro - tinha um gosto metálico que ele odiava, mais dada as circunstâncias, bebeu avidamente. Era sexta feira, o dia cívico do colégio, onde antes das aulas se reuniam todas as turmas do colégio no pátio para cantar o hino nacional e alguma apresentação do colégio. Na fila, ficou a poucos metros da bandeira; os alunos sorteados tinham a função de alçar aos céus a bandeira do Brasil, ou de Brasília ou do próprio colégio – com um desenho de um compasso com as iniciais do seu fundador. Estava Fausto, ali, em posição de sentido, cantando ou pelo menos tentando cantar aquele hino, que mais parecia uma letra em inglês por conter palavras tão estranhas na atualidade. Mas havia uma parte em que sentia sua mão agarrar a camisa e dizer com orgulho a frase:
-Veras que um filho teu não foge à luta! - se alongando no “a”. Sentia nessa parte um orgulho por ser brasileiro e que se gritasse essas palavras, poderia enfrentar a tudo e a todos. Havia partes do hino que não sabia, ou confundia, e disfarçava com um fechar de olhos patriótico, como fazem os jogadores de futebol. Lá pela metade do ato cívico, já havia perdido a vontade de fazer parte dele. Viu, há uma fileira de distancia, Marina, com seu shorts colado há três palmos de seu joelho. Ela não cantava nada, apenas pousava ali alheia a tudo aquilo, de vez em quando mexia nos cabelos, o que só isso, era mais importante que um dia inteiro na escola. Após encerrado o evento semanal, todos se dirigiram às salas, mas não a 4º “E”, que teria aula de Educação física com o professor Walter. O Prof. Water era um homem alto moreno com as sobrancelhas juntas e um bigode de anos, já devia ter seus 40 anos, mas mesmo assim, mantinha um corpo esbelto gritou, com uma agitação incompatível com as dos alunos e também da hora do dia:
- Turma, vamos começar com os aquecimentos! Hoje tem handebol.
Os meninos já ficavam com a cara amarrada, resmungado e protestando. Queriam futebol, sempre futebol.

Comments

trevor said…
saudosa hora cívica :~
Bassáltamo said…
saudosa hora cívica e a aua=linha de educação física nos dias em que não tinha futebol.

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