perdi, e foi feio :~. mas fica pela memoria. palpitações

"Augusto Ruschi e o Desafio do Desenvolvimento Sustentável"

Todos os grandes homens são seres inspirados que com olhos serenos enxergam anos-luz à frente do presente. Tais homens não se contentam em apreender apenas uma parte do conhecimento, querem se expandir em todos os níveis, nos três eixos, sem amarras. Eles têm a capacidade de investigar o mundo como um todo, deixam naturalmente de lado as facilidades da didática em busca de seu maior vício: a curiosidade, que voa livre como um beija-flor, se deleitando com as infinitas flores. Foi assim com Aristóteles, o grande filósofo grego, explorou com brilhantismo a ética, lógica, biologia, psicologia, zoologia, a dramaturgia, assim como Leonardo Da Vinci, pintor, inventor, anatomista. Portanto, não haveria de ser diferente com Augusto Ruschi, o patrono da Ecologia brasileira, esse cientista, agrônomo, advogado, naturalista e ecologista, foi além de sua época para proteger o meio ambiente, que em seus sonhos o chamava com fervor. Nascido no dia 13 de dezembro de 1915 em Santa Teresa, Espírito Santo, foi feito como por um milagre para dar voz a Natureza. Desde que nasceu já tinha contato com a terra, sendo seu pai agrônomo e topógrafo que tinha como um de seus passatempos o cultivo de plantas. Para se lidar com plantações são necessárias complexas relações que deverão ser estabelecidas para o desenvolvimento de um vegetal; e para isso, aqueles que tem amor a sua terra botam os ouvidos junto a ela e escutam com paciência todos seus caprichos, anseios, dores e aspirações. Gaia é um ser; e mais que isso é uma deusa.

Augusto Ruschi foi criado ao ar livre, em um espaço aberto, naChácara Anita”, corria livre de pés descalços, falando com as árvores e os passarinhos. Esse privilégio de desenvolver-se junto a outro organismo, imenso complexo, multifacetado e colorido é uma experiência magnífica para qualquer individuo, mas algo dentro daquele menino, na época Gutti, clamava por mais, infinitamente mais. Não era novidade que esse interesse exacerbado seria logo visto no seu cotidiano escolar. Profissão sublime é a de um professor, que aonde todos vêem apenas uma criança, o mestre vê um discípulo, de onde virá à continuidade e fluidez do conhecimento humano. Tal foi o papel desempenhado por sua professora de Ciências e História Natural, Maria Estela de Novaes, que foi peça fundamental para essa introdução no mundo científico, onde a paixão encontra sua linguagem.

Esse primeiro contanto acabou por juntar a fome e a vontade de comer. Gutti ia as matas e lá passava dias desenhando folhas e bicho, coletando amostras para mais tarde debruçar-se em livros especializados para absorver cada vez mais informações sobre aquilo que lhe era mais precioso: o seu meio. Não passou muito tempo para que os livros e Gutti não se entendessem mais, os básico que ele usava logo tornarem imprecisos ou muito superficiais para seu nível de interesse. E foi em busca de maiores informações sobre pragas nas plantações de laranjas que ele chegou ao seu grande mestre, Professor Mello Leitão, que trabalhava no Museu Nacional, e que junto com outros acadêmicos ficaram impressionados com a amostra de 500 caixas com lagartas feita por Augusto, que mais tarde serviu para a complementação de um estudo mundial de combate a essas pragas. Isso tudo apenas aos 12 anos ficando evidente sua genialidade.

Vendo esse prodígio, o Professor Mello Leitão, como um grande mestre, não hesitou em guiá-lo, porém a história já começava a ser escrita. Seus primeiro capítulos foram na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas sendo um homem de ação que já se encaminhou para servir de assessor na Secretária de Agricultura do Espírito Santo na década de 40. Esse órgão tinha a missão de criar uma política de conservação com o objetivo de criar as Unidades de Conservação, que só em 2000 veio ser regulada. Alertava sobre os impactos ambientais em empreendimentos industriais e o risco da desertificação no norte do Estado Após a Segunda Guerra Mundial, em 1945, e o surgimento da geração “Baby boom”, de dois bilhões de pessoas para mais de seis bilhões em 2007, ou seja, triplicou em sessenta anos. Daí surge uma necessidade básica para o aumento da produção, atrelada a ela, necessariamente energia, e para isso necessita-se de queima de biomassa, que acontece naturalmente, porém o que acontece quando a balança pende mais para um lado?

Em 1949 fundou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão para coleta cientifica e fomento da educação ambiental. Ao longo dessa década dedicou-se aos estudos e publicou sua tese de “Reservas Biológicas e o Desenvolvimento sustentável em Florestas Tropicais”, apresentado em Roma no ano de 1951, quase duas décadas antes de Estocolmo. E aqui no Brasil começava a criação de Reservas florestais, até então um enorme progresso. Já nessa época Rushi alertava sobre os malefícios da utilização dos DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) que haviam sido criados para o combate de mosquitos causadores de malaria e tifo, porém essa substancia tem uma meia vida grande em rios e lago, animais contaminados entram na cadeia alimentar e esse veneno é passado para todo um ecossistema. Apesar de suas súplicas, o DDT só foi banido na década de 70, após pesquisa conclusiva da bióloga Rachel Carson em seu livro “Primavera Silenciosa”, no ano de 1962. Rushi estava na vanguarda mundial na preservação do Meio Ambiente.

Mas foi no final da década de 70 que Augusto Rushi saiu dos círculos acadêmicos e virou herói nacional quando com muita coragem se levantou contra o Regime Militar para vetar um decreto que implementava uma fábrica de palmito na Reserva Santa Lúcia/ES. Rushi não hesitou em alertar a comunidade ambientalista mundial que nos anos 70 vinha embalada com Estocolmo/72, que foi a primeira Convenção Mundial, promovida pela ONU, que tratava do Meio Ambiente como um todo. Fez com que todos os países signatários ingressassem com políticas ambientais em suas agendas. Foi importante também para assegurar como Direito Fundamental um ambiente equilibrado aliado com um desenvolvimento sustentável. A ONU cria a UNEP, programa de gerência do meio ambiente alarmada com o resultado dos relatórios Meadows/72; é o crescimento do conceito de um desenvolvimento que permita às presentes gerações satisfazerem suas, porém de forma racional a fim de possibilitar que as futuras gerações também possam usufruir; fazer com que aja um consumo eqüitativo. O Desenvolvimento Sustentável é o carro-chefe do Meio Ambiente, um apelo para o futuro dos nossos filhos e netos. Por isso quando esse renomado cientista faz esse apelo os autoritários militares são obrigados a recuar. Então ele virou um ícone em defesa à Natureza; e mais, amor a ela.

Mas de todo o vasto mundo natural, entre mamíferos e ovíparos, carnívoros e vegetariano, autótrofos e heterótrofos, animal e vegetal, ele escolheu o colibri, mais conhecidos com Beija-Flor. Parado no ar, o Beija-Flor, batendo suas asa 80 vezes por segundo e sugando o néctar; ele vive disso, por isso depende de uma quantidade imensa de energia.O pequeno pássaro está sempre com fome, portanto é muito fácil atraí-lo com fontes artificiais de soluções açucaradas. Ruschi, observando a seus beija-flores viu que o uso desses bebedouros pode levá-los a morte devido uma bactéria que se forma em seu bico conhecida com candidíase; entretanto Augusto Ruschi nunca publicou nenhum trabalho científico. Com seu grande amigo Assis Chateaubriand fundou a Sociedade dos Amigos do Beija Flor com sede na própria casa dos Assis onde discutiam o futuro do Meio Ambiente, entre preservacionista e conservacionista, Parques Nacionais e Reservas Biológicas, e agindo perante a política para que fosse assegurado esse direito fundamental; esse era seu mundo.

Em 1986 Augusto Ruschi emocionou o Brasil quando no dia 23 de janeiro sofreu uma pajelança, transmitida para o todo Brasil, no Parque Nacional na Zona do Sul do Rio de Janeiro. Ruschi em suas inúmeras expedições nas Florestas Tropicais, nos Andes, Peru, Colômbia e na Floresta Amazônica, evidente que ele foi exposto a uma séria de doença tropicais como malária e esquistossomoses. As seqüelas dessas doenças afetaram seu fígado. E é lógico que ele sabia, por sua vasta experiência, que eram os índios os maiores conhecedores das plantas medicinais e poderiam muito bem curá-lo de seus males; é sabido que a Floresta Amazônica é a farmácia do mundo e só com esses conhecimentos indígenas o pote de ouro será alcançado. Ele tinha muito respeito pela cultura dessas populações tradicionais que convivem em harmonia com seu meio, e que a sociedade deveria olhar para ele e buscar resposta. Mas o mal já estava feito, esse grande cientista veio a falecer no dia três de julho do mesmo ano e foi enterrado no dia cinco, dia mundial do Meio Ambiente.

Augusto Rushi se foi, mas seu legado fica. Ele, antes de tudo, professor acreditava que o único meio de realmente acertar os passos com o Meio Ambiente seria através da educação, é só ela que pode mudar alguma em larga escala. Não dizia o velho ditado que é melhor prevenir que remediar. Só quando a preocupação pelo Meio Ambiente começar do berço que será efetivado. Foi dado ao Brasil as maiores belezas naturais do mundo; Amazônia, Pantanal, Mata Atlântica, Rio São Francisco, Foz do Iguaçu, nesses ambientes estão biodiversidades infinitas, perfeitamente balanceadas numa relação de interdependências formando um conjunto magnífico. Oremos a Gaia, e devemos pedir que ela mande mais de suas criaturas iluminadas para fazer com que essa locomotiva, chamada sociedade pós-moderna, que está vindo sem freio e com fome, pare e pense em suas próximas viagens.

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