São Senhor do Divino

enseada

Queria espairecer, e que lugar melhor para fazê-lo que a imensidão do mar. Contava de sua casa à praia uns cem passos.A noite ia mansa, quase imperceptível, na rua só o barulho de seus pés e o vento praiano - que como criança é indeciso, rumava e soprava para todas as direções, mudando ao seu bel-prazer. No caminho, quase que como miragem, viu em um terreno baldio um cavalo alvo; que por capricho, contrastava com o negro da noite. E a lua era cheia, prata que é reluz; reluzia tanto que dava até sombra a esse notívago inquieto. Mal percebeu que já estava defronte ao seu destino. Deixou os pés nus e entrou na reflexão que daria paz ao seu espírito. A areia estava fofa, e era com dificuldade e com as pernas arqueadas que transitava praia adentro. Mas não demorou para que a areia se encontra-se úmida e compacta, e assim facilitando a caminhada. A maré era cheia, e a lua estava lá atrás, do lado oposto ao mar, o puxando - e como o mar é obediente só a ela a seguia, e por isso estava tão avançado. De quando em quando, a dama da noite ia se encontrar atrás das nuvens, que nem pareciam nuvens; mas sim fuligem de carvão, pois elas empretecem para não chamar a atenção a si; a noite é um monólogo. No caminhar andava tranqüilo, apenas a pensar, pensar em coisas futuras, assim como a cabocla previu os irmãos apóstolos - Pedro e Paulo - da Sra. Natividade. Mas não tão certo como o deles, as coisas futuras deste cá; eram indefinidas, e daí a angustia, o mal-estar. Podia andar por toda a enseada, por todo céu, que não faria a dúvida sair de seu pensar. As horas já iam longe; resolveu retornar. Deu adeus e aplaudiu o espetáculo da única atriz da hora, que estupefata, já ia deixando seu turno e com ele o mar - seu fiel lacaio. No retorno viu o mesmo cavalo branco (que lutava por seu papel na trama) e o escutou a relinchar. Entendeu ao seu modo; o caminhar e relinchar. E era fácil assim viver, apenas um passo após o outro, sempre a falar - ou relinchar, como queira.

Não é Não!

Andar com você em uma areia. E esse mar. E essa areia, sereia. Vento solar, estrelas do mar, do um girassol da cor dos seus cabelos. Eu aqui sentando chorando lágrimas antigas. Em nome do pai, da mãe do filho, da mãe. Santo Senhor do Divino. Ajoelho-me em seus pés, sem orgulho. Apenas olhando humildemente para sua área. Coisa boa. Num quis soltar essa dor que sempre arrastei em meu peito. E esse cérebro maldito que quis sorveu as dúvidas do mundo; megalomaníaco. Fazia-me andar apressado, ficar calado quando não deveria e falar demais em momentos inapropriados. Aceito o suor da minha mamãe e meu gaguejar, o meu braço menor que o outro e essa cicatriz que você me deu. Mas meu coração tem quer ser bom. Mas coração bom é frágil, igual de mulherzinha. Quebra e solta o doce perfume por todo lado. Eu só queria olhar nos teus olhos e sentir teu perdão; mesmo que ela não exista. Obrigado pelo mar, lugar onde poucas vezes submerso estive, mas as poucas foram marcos em minha vida. Quando me olhei no espelho eu vi o mundo, que me assistia. Em todos os cômodos da minha casa haviam câmeras flagrantes e televisores imensos. Olhando para eles enquanto eles me olham. Hiperealidade. Eles, muito papo de esquizofrênico. Eles, sou eu mesmo com um senso critico aguçado. E eu sei quando você aí falhar, teu merda. Agora me chame de Santo. Vêm para mim. Vêm, vem rápido.Vêm, Para me dizer que você não pensa em me dizer: - que tem desejo sim. Numa terça feira, sem eira na beira, você não estava lá.Você não estava lá. Essas ruas sem esquinas; completamente sã. Do cansaço de uma mente que já labutou demais, até o momento de teu descanso eterno tu irá ser o magnânimo de tua vida. Fará dela o monologo de teu ser, história de Narciso, contada com muito esmero em forma de entonação e representada nos melhores teatros. Uma tarefa sem fim. Boa sorte, meu bom rapaz.

Comments

Bassáltamo said…
por um doo8 better
Anonymous said…
;)

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