luto

Brasília, 19 de março de 2008

À minha avó Elza,

Desde sempre você foi parte de minha vida. Minha mãe me falava que em sonho tu já tinhas me visto, correndo com meus cachinhos dourados para junto de meus pais. Meu pai que até então não sabia se poderia ter filhos ficou maravilhado com essa possibilidade e que lendo sua carta motivou-se para profecia se concretizar. Foi aí que nossa história começou. Sempre que ia te visitar, no meio de toda agitação da casa, você sempre dava um jeito de me chamar de lado, pedir para sentar-me junto a ti para que pudesse me ver, e olhava dentro dos meus olhos, e dentro dos teus eu achava amor infinito. Alisava meu cabelo, sempre com um sorriso bondoso que seria impossível diminuí-lo em palavras, e me enchia de beijos de tal forma que me inflava de vida. Queria me falar sobre as coisas da vida; algumas talvez tenha apreendido, outras tantas ainda levarei muito tempo para compreender o seu completo significado, que por detrás das suas mãos afáveis, você sabia que um dia eu iria precisar. Sentia por ti uma atração que ia além da minha limitada consciência, como se um elo invisível nos unisse, parecia que ia para Caetité só para me consultar contigo, que sempre considerei meu Oráculo, para te falar de minhas dúvidas, angústias e medos, coisas normais, mas que doem de sobremodo no coração de um jovem. E com sutileza, de uma nobreza indizível, acalmava meus ânimos com sua voz doce fazendo o mundo parecer um carrossel. Foi em grande parte tua paixão pelo francês que me fez também amar essa língua que é dos anjos, que é dos sonhos. Espero agora que venha me visitar em sonho bom para que eu possa assim matar a imensa saudade que tua presença física me fará. Mas não há de ser nada; já não disse que esteve sempre comigo. Nesse dia negro, as lágrimas dos muitos que choram por ti irão inundar a terra para dar água salina ao teu barco que navega em direção ao horizonte, indo para o pôr-do-sol, onde lá possa, finalmente, descansar e contemplar a beleza que foi tua vida, sempre pautada no bem; e de lá poderá ouvir se transformarem os choros em vívidas risadas daqueles muitos, que como eu, foram completamente apaixonados por você. Au revoir!

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