máscara

Ao poucos vou descobrindo que estou triste; respiração por respiração o pesar no meu peito se faz perceber cada vez mais. Antes podia fazer o que quisesse com um olhar ingênuo, despreocupado; hoje, vejo o mundo soturno onde vilões nas esquinas estão a me vigiar. A chuva não doía, agora ela representa as lágrimas que não posso ter, e fico acompanhado as lágrimas percorrem a janela aleatoriamente. Eu deveria ter olhado no fundo dos teus olhos e ver que você mentia, aceitá-la de tal forma. Mas fui bruto, não é? Quis te amar demais, e isso hoje em dia não é de bom tom. Um dia ao caminhar ouvi as árvores dizendo se nome; o vento ia forte contra minha direção, como se quisesse que eu voltasse atrás, percorrer novamente o caminho; sem falhas agora. Então me detive por alguns instantes, tentei dar meia volta para voltar pra ti, mas você não deixou. A parte tua que carrego em mim me impediu, fez isso com a voz triste, porém decidida. “Não, não dessa forma”. O céu nublado, cinza escuro anunciava meu destino. Não demorou em que o céu desabasse; e com ele, eu. Resisti por alguns instantes a torrente que caia, querendo dar àquela cena, assistida por ninguém, algum tom melancólico digno de alguma coisa. Mas não se passa ao sublime à dor verdadeiramente humana, esta é tão sem graça e desprovida de qualquer apelo artístico. Procurando qualquer abrigo, acabei me escondendo, junto com alguns outros desprotegidos, em um toldo preto que servia de fachada para uma loja de fantasias. Como a rua estava sem graça, e com carros passando e jogando detritos para todos os lados, virei para trás e com curiosidade passou a analisar os itens na vitrine dispostos. Capas, fantasias de super-heróis, perucas. Mas nada disso chamou minha atenção, a não ser uma peça escondida no canto esquerdo, no chão da vitrine em baixo de algumas espadas. Uma máscara, grande, que deveria cobrir todo o rosto. Os olhos eram visivelmente sofridos, mas havia uma peculiaridade: pareciam esconder uma tristeza profunda e misteriosa, o nariz afilado descia um pouco torto até chegar a uma boca, grande, como a de um contador de estórias. Mas nada nessa máscara é digna de menção, apenas a expressão de seus olhos. Entre o barulho dos estranhos espremido em um cubículo, do mundo molhado, dos pés úmidos, da mão enrugada, reconheci meu rosto no daquela máscara de forma tão fidedigna que me precipitei junto ao vidro para vê-la melhor. Era como olhar-me no espelho e ela correspondia a minha curiosidade. Sai daquele lugar atormentado, e a chuva ainda caia, porém moderadamente. Sobre as minha pegadas círculos iam se formando e eu voltando a sentir coisas, tantas coisas passadas que tornaram-se presentes nesse momento de limbo. E quando em fim, cansei e desisti de esconder-me da chuva, olhei para o chão alagado, e em câmera lenta, no reflexo de uma poça vi minhas máscaras cairem, uma atrás da outra, até aparecer uma face nua, desprovida de qualquer vício. Poderia esconder minha tristeza como quisesse, era um papel branco agora.

Comments

Poeta Punk said…
me relembrou os contos de Joyce....alem de ter usado palvras que eu utilizei ultimamente para escrever em meus versos....coincidência ou influencia do dia-dia...não importa...é isso Irmão!!!
arghlemonster said…
ei, um convidado do meu blog suspeiat q vc seja PAI dele.
Ana Lopes said…
Muito bom o texto. Também te linkarei
isabel said…
Estou sem palavras.
Demasiado bonito, demasiado bem escrito, demasiado sofrido.
Sofrer é sempre demais.
E pergunto, será pecado amar demais?

Beijinho
Poeta Punk said…
Larva vem do latim larvae que significa "Máscara", boneco, espantalho, demônio, espectro que se apodera das pessoas.....

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