sem título I

Acordei em uma cama que não era a minha. Meu quarto foi todo mudado; a coleção de livros em uma mão francesa à esquerda, fotografias coladas em um mural metálico - nossa lua de mel em Paris -, nada estava no lugar. Qual foi meu espanto quando ao tocar o chão, não senti o bom e velho carpete bege claro, mas um frio azulejo que devia ser azul claro. Oh não! Meus chinelos do papai, de couro e muito confortável; ele que abraça e massageia todos os meus joanetes. Não havia nenhum relógio nesse quarto, nem espelhos, nem calendários. Muito menos porta... Porta! Não têm porta? Olhou pela janela, e já em primeira analise ela se demonstrou impenetrável, resoluta. Sua paisagem era muito bonita; devia ser o começo do dia e o final da noite. A direita uma escuridão cheia de perigos e em apenas um giro de cabeça o sol iluminando os primeiros pedaços de terra. De uma forma estranha o céu muda para uma cor inusitada. Numa mistura oposta o azul do céu, vermelho do sol, branco das nuvens, milagrosamente vira um branco amarelado, mas bem de leve: cor de melão. E lembrei que me casei em um dia assim.

Com o passar do tempo à monotonia me fez ficar meticuloso, olhava detalhadamente para todos os cantos do quarto. Depois de deixar de achar engraçado e de ter mandado pra puta que pariu todo mundo, de ter gritado até ouvir minha voz sumir e ficar rouca. Rasguei esse pijama que não era o meu. O que eu tinha posto pra dormir na noite anterior era de seda pura preta, um presente de minha filha. O que eu acordei foi um de algodão da merda confecções, que qualquer pobre pode botar no corpo depois de se banhar com leite de rosa. Aquele gosto azedo me dá ânsia de vômito. Dei uns bicudos na janela, mas não adiantou. Minha força foi entregue a mim novamente.

Comecei a ter umas coceiras na minha cabeça, cocei meu coro cabeludo, mas não parava, e as cócegas se tornavam cada vez mais insuportáveis. De repente me dei conta que ela tava dentro. Dentro de mim, da minha cabeça. Achei divertida a idéia de bater minha cabeça no chão e esmagar essas coceirinhas. E ri. Bang bang bang.



A cidade é brava

Ela é valente

Faz todo mundo ficar com medo de

Gente, bicho, pessoa, isso, lixo

Eu quero olhar nos seus olhos

E ver que você mente

Comments

Poeta Punk said…
Trouxe-me a alma uma angústia muito grande ao ler esse seu post...

essa era a intenção...
como sempre muito bom..
irmão!!!
Anonymous said…
muito boa prosa.. essa coisa de estar preso em um lugar onde nunca se entrou.. é como a coceira: como pode ter entrado ´na cabeça?
rsrsrs
gosto desse blog
bom voltar aqui

Popular posts from this blog

2 0 0 9 20 0 8 0 6 crisanta

Seiva Bruta

VoltaatloVoltaatloVoltaatloVVoltaatloVoltaatloVoltaatloVVoltaatloVoltaatloVoltaatloV