sem título II


E por essas veias, que olhava enquanto batia em cada letra no teclado. Um “p”, depois um “e” e assim por diante. Será que algum dia aquela seqüência de barulho ia fazer algum sentido. Ele escrevia para se aliviar, pois o sangue estava fervendo lá dentro, mas depois pensava nas pessoas, se entenderiam as palavras que ele escolhera, as metáforas. No trecho que estava trabalhando circulou algumas palavras, as que não serviam; eram muitas, não exprimiam o que ele realmente gostaria de dizer, e se tivesse a preguiça de não fazer isso, como poderia se justificar perante ele mesmo. Usar palavras imprecisas. E olhava no dicionário, procurando sinônimos. Seus olhos fixos no papel, que estava mais branco que preto, e significava mais nada que alguma coisa. Não vai fazer diferença algum. E continuava a escrever. “E” depois “n”. Tlec, Tlec, espaço, vírgula e ponto e vírgula.

Enquanto mamãe me botava o pijama, e penteava meus cabelos, olhava não para os meus olhos, mas para minha testa; e ela sorriu, e eu sorri de volta. Esperava que tivesse uma boa noite de sono, sem pesadelo. Sua boca ficava meio torta e aberta, como se estivesse fazendo movimentos difíceis de controlar e para facilitar segurava meu queixo firmemente para manter meus olhos curiosos longe todos os cantos de meu quarto. Finalmente quando acabou, me pegou em seus braços e estirou meu corpo em minha cama, que estava um pouco fria. Ela me olhou nos olhos, passou a mão em meus cabelos e deixou bagunçados, mas ela não agüentou muito tempo e pegou o pente na cabeceira para alinhá-los de novo. Cantou uma canção, em inglês. Não é só minha mãe, mas toda mulher quando quer soar terna canta deliciosamente bem:

-“You know, let it shine trought. You can let shine if you want to. Uhôô. Let it shine. Sometime, you gotta to let it shine, let it shine trought. Let it shine trought. Uuuu. Hey Uhuu”

E meus olhos iam abandonando a clareza enquanto ouvia sua voz cada vez mais distante, e que, em meus últimos segundos de consciência só ouvia o vogal “u” saindo de forma graciosa daquela boca; que em seguida me beijou todo e foi em embora. Plic, apaga a luz. Ploc, fecha porta

- Boa noite, meu anjo, dorme com Deus.

- Boa noite, mãe.

Plic, apaga a luz. Ploc, fecha porta. Você está indo embora para todo o sempre?

Tlec, Tlec, Tlec. E ponto. Ou não?

Comments

Poeta Punk said…
"No trecho que estava trabalhando circulou algumas palavras, as que não serviam; eram muitas, não exprimiam o que ele realmente gostaria de dizer, e se tivesse a preguiça de não fazer isso, como poderia se justificar perante ele mesmo. Usar palavras imprecisas. E olhava no dicionário, procurando sinônimos."
Brainstorm.....só que melhor estruturado......com ajuda do pai dos burros ou seria do pai dos cultos....seja lá como for....não creio que um dicionário possa copular......muito bom seu
texto......gosto muito de onomatopéias tipo plics e plocs.......

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