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A neve batia forte lá fora. Peguei a xícara marrom, ela esfumaçava. Ali, em pé na cozinha, sozinho, senti fundo sua falta. Perambulando pelo mármore congelante. A respiração fica forte, o medo de fantasma ou ladrões estupradores. A televisão é azul, não sente falta do colorido. Dor, miséria humana. Tantas guerras, tanto ódio. Contudo, parece ser bom, acha que és uma pessoa interessada. Polido; tem que ser, para ficar longe desse horror. Em nossa intimidade, te falei coisas. Tantas coisas, nos conhecemos há anos, e tudo, olhado de longe, parece tão bonito. Linda recordação. Escuto musicas, nossas musicas. Me pego bailando, sozinho, perto do banheiro. Acendo a luz, luz forte e amarela. Escuto a sirene lá fora, da selva. Perdi um segundo, e em sete me olhava translúcido no espelho. Em ato automático, prendi o cabelo. Barba me escondida. Está tão frio! O estalar de dedos e constantes, o relógio vaga. A vermelhidão de meus olhos. Ao meu prepúcio perdido. Glória a natureza! Dizia um velho amigo meu, que sempre no badalar das onze, algo estranho acontece. Como se o milagre operasse, livre e arrogante por entre as mesas bem dispostas no salão, o rendezvous. Está escuro do lado de fora. A madruga ainda está por vir. Lua, a bela atriz solista, flana no ar. Petrificado me enrolo no manto sagrado de minha cama; e é aí que o pesadelo começa. A temperatura se eleva, e com ela meu estado de espírito, e com ele meu limbo. Os pés, tange a beirada, como que prontos para sair por aí. Ainda agitados, os pés, do dia produtivo. Em cima de minha cama um pequeno Buda, que guarda meu sono. O sonho é estranho! Começa me iludindo, mostrando mil imagens, mil caras, mil pensamentos. Joga quase tudo fora. Deixa algo. Inspirado, talvez pense mais uma vez; sem querer ouvi tudo, do buraco da fechadura. A arquitetura faz a paisagem, sem ela fica o horizonte infinito. A cidade seca e fria, esfria cada vez mais. Estou tão longe de você, em um mundo sem fim e porteiras. As ciladas do cotidiano, das noites, sangrentas que são, tiram toda verdade. Me encontro suado, são 2:02. Algo acontece, ou está preste a acontecer. Aconteceu. Meu celular toca; e é o número. É finjo indiferença, faço pouco, quase nada. Mas, logo, em segundos percebo a loucura. Atendo, te escuto sim; falo, falo, espero resposta e nada. Olho o telefone, está tudo certo, ok. Escuto-te perfeitamente do outro lado, mas não me escutas. Insano, bato o telefone na mesa, para logo atirá-lo no chão, violentamente.

Acordo desse sonho, o frio é demais, antártico. O café faz efeito. Tenho que acordar agora, de súbito, boto mais um casaco e vou para a sala. Ligo e desligo.

Comments

Márcia Fajardo said…
realmente muito bom.
mas novamente, um texto ligeiramente melancólico para se ler numa tarde de estágio!

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