umdiaequatorzehoras

Hm, hm. Na guerra você não tem noção de tempo; o cansaço consome o que restou da consciência. E ele estava no front, onde havia ocorrido poucos minutos antes uma investida mal feita; ou seja, haviam dezenas de companheiros mortos, sofrendo da forma mais atroz. Outros, os que não estavam sem um membro ou com as víceras à mostra, gritavam de loucura. Um grito se destacou com o cessar dos tiros. Enquanto o sargento recebia as ordens de sacrificar mais vinte ou trinta homens; num lapso de realidade, ele correu dentro do fogo cruzado para salvar o pobre que gritava, milagrosamente não foi alvejado - por que na guerra não importo o quão bom você é, se estiver na hora certa no lugar certo; terá um enterro calado, sua arma, capacete e sua indetificação cravados na terra, se tiver sorte, e ganhar menções honrosas por perder a vida; não dizem que a vida é o bem maior? Acho que não vale mais que uma condecoração póstuma. Chegando lá, viu a poeira que tomava conta dos ferimentos do rapaz, que já cuspia uma baba branca e concentrada e com arranhava a terra com força, as palavras não faziam sentido, o olho vidrado. Tentou levantá-lo, mas não pode, estava cansado. Quantos sentimentos posso fazer uma pessoa sentir, a infinidade de coisas que se pode oferecer, a complexidade de toda relação humana? E naquela hora só podia fazer uma coisa, apenas uma, das milhões que se não tivessem na guerra poderia fazê-lo em um piscar de olhos; podia apenas dar aquele estranho uma morte sem dor. Only that.