150º post do Frank!

Deputado


Acordou e às seis e meia, esfregou os olhos olhou o relógio. Seis e meia e quatro segundos. O começo do pior dia de sua vida. Por 145 à 98 e outras tantas abstinências, fora cassado de sua legislatura. O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados havia entregado o dossiê e no mesmo dia foi julgado. Assessores, chefe de gabinete, escriturário, todos acompanhando com um frio na barriga. Eles ouvindo na rádio interna, que percorria todo o prédio; e ele, o Deputado João Pássaro Branco, de Natal do grande Estado do Rio Grande do Norte, de em seu gabinete, só, com as duas mãos postadas sobre a grande mesa de mogno escuro, com seu discurso meio que pronto, com aquelas palavras escolhida no Aurélio. Sentia que lá no fundo queria chorar; sentiu até um nó na garganta; seu imenso ego não permitiu. Assim como não permitiu ouvir aos seus assessores
- Não vamos exagerar no extra, senhor, a Fazenda e aqueles malditos delegados estão de olho.Vamos acrescentar esse bônus natalino no projeto do asfalto da praça Anísio Teixeira. O de agora está muito gordo.
- Barros me pediu esse favor. E que se dane esse secretário de merda que vai contra o meu partido; que do jeito que está, vai ser. Temos que ter a verba até o próximo trimestre. Contando a licitação e começo das obras, um tempo precioso!Aprove logo!
A sessão acabou, seu poder acabou. Estava humilhado. Havia um silêncio sepulcral na sala, as cortinas verticais estavam entreabertas e eram quatro horas da tarde, e dali podia ser ver o sol no começo de sua decida para se refrescar no Lago Paranoá. Um tocar de um telefone corta de maneira abrupta; foi o silêncio que antecede o furacão. A cada tocar sentia sua visão tremer e seus maxilares travarem uma batalha. O telefone tocou três vezes, e depois parou. Ouviu a voz da secretária no intercom:
- Deputado, o Senador Barros ao telefone.
- Pode passar Clara, obrigado. – com a voz trêmula e sem força.
- Caro irmão João, como pôde meu homem. Juntei toda a força do partido, fizemos alianças com os nossos piores inimigos. Traíram-nos, não há mais moral nessa nação. Se comermos do próprio tipo, o que somos além de bichos. Vou fazer de tudo para obter tudo de volta. Não se preocupe vou ligar para o Ministro da Justiça, o deus e o mundo. Vamos vencer essa. O partido precisa de você!
Na sessão extraordinária, o Deputado que iria fazer seu discurso de despedida, defronte do Poder Legislativo de seu país e aos milhares de espectadores que o acompanhavam Brasil a fora.
- Povo Brasileiro...

Comments

Bassáltamo said…
depois de tanto tempo, chego a conclusão; e te digo: "ené alantchi alnorem" e pronto.
Poeta Punk said…
Boa maluco......essa pode ir pro livro!!!!futuramente a compilação de toda a nossa arte literária....abraço irmão....gostei da expressão "silêncio sepulcral" !!!!!
Anonymous said…
traduz isso

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